Crises no casamento: quando o amor pede transformação

Por Lívia Alvarenga

Nem sempre é falta de amor.

Às vezes, é excesso de dor.

Dor acumulada.

Dor antiga.

Dor ancestral.

Dor da criança ferida que habita você e o outro.

Dor das funções adoecidas que aprendemos a desempenhar acreditando que “assim é o certo”.

Dor do orgulho que separa.

Da arrogância que endurece.

Do medo que afasta.

É comum que o casamento, em suas diversas fases, atravesse momentos de crise.

E essas crises não são apenas do presente — elas carregam camadas profundas de um passado que vive em nós.

Como dizia Rollo May, “o amor não é apenas um sentimento, mas um compromisso contínuo com a expansão da nossa identidade.”

E identidade exige confronto com a verdade.

O parceiro, muitas vezes, se torna o nosso estranho íntimo.

Aquele que parece distante mesmo estando perto.

E é nesse espelho desconfortável que as nossas feridas gritam.

Segundo Bert Hellinger, no campo das relações, não existe acaso:

“O outro sempre vem no tamanho exato da nossa necessidade de cura.”

Cada desentendimento, cada silêncio, cada rejeição, ativa em nós memórias emocionais esquecidas — da infância, da linhagem, da alma.

A mulher que se fecha em orgulho e se vicia em controle pode estar, inconscientemente, tentando se proteger da mesma dor da mãe, da avó, da menina que nunca foi cuidada.

O homem que endurece ou se esconde em vícios e distanciamentos emocionais, talvez nunca tenha tido permissão para sentir, para chorar, para expressar sua vulnerabilidade.

O casamento vira campo de batalha, mas pode ser também campo de cura.

A psicoterapia oferece esse espaço sagrado onde a parte que escolhe se cuidar começa um movimento de transformação que reverbera no todo.

Mesmo quando o outro não participa — um começa, e o campo muda.

Porque como nos ensina a visão sistêmica: ao mover o nosso lugar, tudo ao redor precisa se reorganizar.

O perdão é parte essencial nesse caminho.

Mas não o perdão superficial de quem esquece para seguir.

E sim o perdão maduro, consciente, de quem entende que o outro também tem uma história, também tem dores, também carrega uma bagagem que não é só dele.

O Ho’oponopono, antiga prática havaiana de cura, ensina isso com palavras simples e profundas:

Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grata(o).

Palavras que limpam memórias inconscientes, que quebram ciclos, que transformam a energia do campo.

A transformação no casal começa com um de nós.

Com a coragem de olhar para dentro.

De sair da posição de vítima.

De abandonar a expectativa de que o outro mude.

E escolher mudar a si mesma(o).

Como nos mostra Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos, a alma feminina sabe. Ela reconhece os ciclos. Ela sente quando algo precisa morrer para algo novo nascer.

E o mesmo vale para o masculino que busca se reencontrar consigo mesmo, saindo da rigidez, dos vícios, das máscaras de poder e invulnerabilidade.

A física quântica já comprova: a energia do amor é uma rede invisível que conecta e transforma.

E o amor real, maduro, é aquele que não idealiza.

Mas que vê a sombra, a dor, o caos — e mesmo assim, escolhe permanecer e crescer.

A boa notícia?

Você não precisa fazer isso sozinha.

Você pode se acolher, se transformar, e permitir que o amor volte a respirar na sua casa, no seu coração, na sua história.

Porque toda transformação real começa dentro. E toda cura que começa em um, chega no outro.

Referências integradas:

Bert Hellinger – A Simetria Oculta do Amor

Virginia Satir – Peoplemaking

Clarissa Pinkola Estés – Mulheres que Correm com os Lobos

Joe Dispenza – O Poder do Subconsciente e Torne-se Sobrenatural

Dr. Ihaleakala Hew Len – Limite Zero (Ho’oponopono)

Brene Brown – A Coragem de Ser Imperfeito

Jung – A Psicologia do Inconsciente

Rollo May – O Amor e a Vontade

Teorias contemporâneas sobre masculinidade: Robert Bly (O Homem de Ferro), Richard Rohr (Adams Return), e Brené Brown (Dare to Lead)

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