Por Lívia Alvarenga
Vivemos um momento da história em que somos convocados à maturidade emocional. Um tempo que nos pede, silenciosamente, para atravessar as camadas mais profundas das nossas relações e revisitar os papéis de homens e mulheres dentro do lar, da família e da sociedade. E, quase sempre, quem inicia esse movimento de transformação é a mulher.
Não por ser mais forte, mas por ser mais sensível ao chamado da mudança. Na maioria dos casos, é ela quem busca ajuda, quem chega à psicoterapia, quem leva os filhos ao consultório. Mas isso não deve ser mais uma sobrecarga, e sim um gesto de potência: o de abrir caminhos. Porque quando uma mulher se transforma, ela convida todos ao redor a se transformarem também — inclusive o homem.
A masculinidade, durante muito tempo, foi definida pela rigidez, pela força física, pelo papel do provedor. Homens foram ensinados a calar a dor, a esconder as lágrimas, a sufocar a vulnerabilidade. Como nos mostra Brené Brown em A Coragem de Ser Imperfeito, muitos homens crescem ouvindo que devem ser invulneráveis. E, quando não conseguem cumprir esse ideal, tendem a buscar válvulas de escape nos vícios: excesso de trabalho, sexo, álcool, agressividade. Tudo isso como forma de compensar a dor de não poder simplesmente dizer: “Eu estou sofrendo.”
Mas e se nós, mulheres, ao olharmos para nossos homens, começássemos a enxergar além do comportamento? E se, ao invés de julgar a brutalidade, reconhecêssemos a dor? E se déssemos espaço para que eles também pudessem ser ouvidos, cuidados, amados? Quando uma mulher amadurece emocionalmente, ela não apenas se liberta — ela se torna o espaço seguro para que o homem também encontre seu eixo.
E isso não significa que devemos carregar tudo sozinhas. Significa compreender que há uma dança — como descreve Joan Garriga em Bailando Juntos — em que cada um, homem e mulher, tem sua hora de sustentar e de ser sustentado. Às vezes, a vida exige que os papéis se invertam. Às vezes, a mulher precisará prover. Às vezes, o homem precisará cuidar. Mas o mais importante é que ambos estejam dispostos a amadurecer. Porque o amor verdadeiro só existe entre adultos emocionais.
Essa nova forma de amar não tem a ver com estereótipos ou romantismos idealizados. Ela nasce do encontro entre duas verdades humanas que se permitem ser vulneráveis. Como nos lembra Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos, “quando uma mulher volta para sua essência selvagem, ela volta a ter olhos para ver e ouvidos para ouvir.” E isso também vale para os homens. Precisamos devolver aos nossos filhos a permissão de sentir, de chorar, de amar com coragem.
A psicoterapia, nesse caminho, torna-se um guia essencial. Não apenas para curar traumas, mas para construir novas famílias: mais conscientes, mais amorosas, mais maduras. Ela nos ajuda a enxergar os espelhos que ativam nossas feridas — como nos mostra Virginia Satir — e nos ensina a transformar dor em conexão. Nos convida a olhar com compaixão para as nossas histórias transgeracionais, nossos esquemas mentais, nossos personagens inconscientes, e a romper com padrões que já não cabem mais nesse novo tempo.
Como propõe Joe Dispenza em Torne-se Sobrenatural, é possível reprogramar a mente, mudar padrões emocionais e acessar novas frequências de consciência. Quando compreendemos isso, entendemos que o verdadeiro poder não está em dominar o outro, mas em transformar a nós mesmos. E é nesse ponto que também acessamos a verdadeira liberdade.
O perdão, nesse processo, deixa de ser um esforço moral e se torna um gesto de libertação. Técnicas como o Ho’oponopono nos mostram que repetir palavras simples — “Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Sou grato.” — podem nos ajudar a dissolver memórias emocionais profundas. E isso vale tanto para as relações entre casais quanto para as feridas herdadas dos nossos pais, avós e ancestrais.
A psicoterapia é, portanto, o ventre onde essa nova família pode ser gestada. Onde homens e mulheres se encontram não para repetir papéis, mas para criar um novo modelo: um lar onde a força caminha junto com a vulnerabilidade, onde o amor é rede de apoio, e onde a maturidade emocional se torna o maior presente que podemos deixar para as próximas gerações.
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Referências bibliográficas:
Brown, B. (2013). A Coragem de Ser Imperfeito. Sextante.
Garriga, J. (2014). Bailando Juntos: o que é o amor de casal e como sustentá-lo. Planeta.
Dispenza, J. (2019). Torne-se Sobrenatural. Citadel.
Estés, C. P. (1992). Mulheres que Correm com os Lobos. Rocco.
Satir, V. (1983). Terapia Familiar Conjunta. Summus.
Hellinger, B. (2001). Constelações Familiares: A Cura pelo Amor. Atman.
Vitale, J. (2007). Limite Zero: O Sistema Havaiano Secreto para Riqueza, Saúde, Paz e Mais. Ediouro.
Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2003). Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais para a Mudança do Script de Vida. Artmed.